Autoria - Fernando Reinach - Biólogo - 21-03-2013
Os seres humanos associam a palavra "novo" à palavra "melhor" para descrever o progresso da humanidade. Mas nem sempre o novo é melhor. A redescoberta dessa afirmação é óbvia e tem aumentado muito o interesse pelo modo de vida nas sociedades primitivas.
O novo livro de Jared Diamond, The World Until Yesterday (O mundo até ontem) é sobre esse ontem e sobre o que ele pode nos ensinar. São 500 páginas de observações fascinantes e aqui vai um aperitivo.
Nas sociedades tradicionais, as crianças, antes de andarem, são carregadas pelas mães. Logo que aprende a firmar o pescoço ela é transportada na posição vertical. Pode ser nas costas ou na frente, seja com auxílio dos braços ou panos dobrados.
Nessa posição o campo visual da criança é aproximadamente o mesmo da mãe. Ela olha para a frente e pode observar todo o ambiente em sua volta. O horizonte, as árvores, os animais e seus movimentos são os mesmos da mãe. Quando um pássaro cantar e a mãe virar a cabeça para observar, a criança também tem a chance de associar o canto à figura do pássaro. Carregar a criança na posição vertical faz parte do processo de educação.
Mas isso foi ontem. Hoje inventamos o carrinho de bebê. As crianças são transportadas deitadas de costas olhando o teto. A criança não compartilha a experiência visual da mãe. Os sons ouvidos pela criança não podem ser associados a nada. Deitadas, as crianças modernas só observam o céu e como o céu é claro e incomoda a vista, muitos dos carrinhos possuem uma cobertura de pano que restringem a visão e empobrecem a experiência visual da criança. Hoje transportar uma criança é um estorvo e a solução moderna distancia fisicamente a criança da mãe e não permitem que compartilhem experiências sensoriais.
Hoje sabemos que o desenvolvimento do córtex visual, a parte do cérebro que processa as imagens, não termina na vida fetal, mas continua após o nascimento e depende do estímulo visual constante para amadurecer.
É incrível mas hoje, numa época em que educar para o futuro é o lema de toda escola, numa época em que tentamos alfabetizar as crianças cada vez mais cedo, abandonamos o hábito milenar de permitir que as crianças olhem para a frente e compartilhem experiências vividas por suas mães.
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